Estávamos em Santos. Era final de 2008. O mundo inundava. Era tempo de voltar e não conseguíamos. Aí deu uma trégua, uma janela suficiente para alcançarmos um lugar chamado, muito adequadamente, de Bom Abrigo no Paraná. A tripulação era o Rogério e eu, marinheira de primeira viagem, nossos amigos e parceiros das outras pernas, Salvador-Espírito Santo e Espirito Santo-Rio, o Doca, o Sérgio, o Walter e o Maurício, tiveram de voltar a seus postos de trabalho no RS. Eu é que folgava, enquanto o TJSC não me chamava. Estava em merecidíssima licença-prêmio da prefeitura de POA. Partimos. Velejada de causar inveja, fácil, fácil alcançamos 7, 8 nós. O perfil das cidades da baixada passava a mil. Anoiteceu. E roncou o tempo. E caiu o mundo. E o piloto automático deu pau. E eu enjoei. E as ondas estouraram feito gente grande no casco do veleiro. Água revolta, abismão. Decisão rápida tomada. Voltamos. A tempestade entrou antes da previsão. Pegou o Santa Preguiça descansando, surfando no meio do mar.
Foram 14 horas com o olho grudado em todos os quadrantes. Chuva na cara, raio queimando, iluminando o breu feito clarividência. Amanhecemos naquele embate, eu vomitando e fazendo café e ajudando o capitão a fazer xixi, já que ele não podia largar a cana do leme sob pena de naufragarmos. Cabia-me também abastecer de óleo o motor. Eram bombonas de 20 litros, tiradas do porão com o barco em doida dança sobre as ondas e ainda a necessária puxadinha com a boca, aquela mangueira fedorenta a diesel. Sobrevivemos. Aportamos em Santos e dormimos, mortos, até que o carinha da secretaria do clube veio avisar: "tem que registrar o barco". "Sim, sim, vamos lá, mais uma vez".
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